terça-feira, 18 de setembro de 2012

depois do éter

A senhora mostrava-se desalentada do outro lado da linha. A voz, sem força, revelava receios, abandonos, desistência. Como em todas as vezes, a filha assustou-se: eram muitos os anos, talvez pouco repletos de momentos plenos. Havia pouco por onde ajudar, sobretudo no passado, o presente era um reflexo de decisões de vida,  da escolha de caminhos mais certos ou errados a percorrer. Sentindo a impotência, optou pela solução habitual: fazê-la sorrir com os episódios dos netos, romancear um pouco mais a sua vida, oferecer-lhe um desafio de novidade. Do outro lado do éter, a cor da voz foi-se tornando mais colorida, um pouco mais vivaz. Quando desligou a chamada, a filha sentiu um sentido de urgência invadindo-a por completo. Uma verdadeira merda.

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